Garida

Na tarde quente, o fogão de lenha metia fogo pelas ventas.
A parede era negra, 
as vigas eram negras, 
as telhas enegrecidas.
As imagens despejam-me a fuligem por dentro.
À panela, douravam os lambe-dedos e frigia o vento.
No quintal, a goiabeira, o pé de café e o silêncio.
O pilão dormia em um canto.
As folhagens oscilavam e enverdeciam a vista.
Mais tarde, cadeira de balanço lá fora,
A ver chegar as primeiras estrelas,
A rua inteira era um pavilhão de repertórios e imensidões,
e ninguém sabia que depois, amontoados,
serviriam à saudade, que como uma serpente, 
sibila sobre as páginas onde se cravam as lembranças.
Um fantasma alto e magro assobia uma canção,
me sorri, me traz no colo e me conta estórias de trancoso:
Era uma vez uma Margarida,
que viajou para o céu...



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